Acordo com esta sensação de que tudo o que gosto me está a deixar. A começar pelo meu avô que ainda me recuso a acreditar que, tão depressa, foi reduzido a pó. A começar pelo meu avô que foi a primeira pessoa a pegar em mim ao colo e que agora nunca mais poderei ver a cara dele a sorrir para mim, com orgulho. O meu avô que queria tanto ver-me tirar um curso e ser bem sucedida. O meu avô, do qual só restam muito poucas fotografias, uma saudade imensa e tantas memórias. E no entanto, tudo isso é tão pouco. Tudo o que gosto está lentamente a deixar-me e eu não tenho forças para correr atrás delas e lhes pedir que fiquem: as músicas boas que andavam sempre na minha boca, as histórias que tanto gostava de escrever, os filmes que adorava ver. Porque tudo isso me parece tão superficial quando penso em ti, avô. E acordo com esta dor no peito e estas olheiras, todos os dias. Durmo demasiado e parece que não chego a descansar nem metade. Acordo com esta dor enorme que me diz para ficar na cama. Morreste-me, avô. E no entanto, tudo parece continuar. Essa tua partida parece não influenciar a vida dos outros, nem me deixa ficar em casa a descansar. Gostava de falar sobre as mãos de todos nós, no dia da missa, no banco da frente, bem apertadas. As lágrimas nos olhos de todos e eu a tentar não chorar. Porque naquele momento até o meu pai e a minha avó e a minha mãe e a minha tia, eram mais pequeninos do que eu. E senti esta responsabilidade de não chorar por eles: para não sentirem mais um peso, o da minha dor. Senti necessidade de acalmar a minha tia quando ela chamava por ti, avô. Mas à noite, choro muito. E de manhã, quando vou no autocarro, choro muito sem lágrimas. E choro assim de cada vez que olho à minha volta e o mundo não pára por ti. De cada vez que olho à minha volta e ninguém se parece importar com a dor que vai no meu peito, nem fazer quilómetros e quilómetros para me dar a mão. Se soubesse que tudo isto iria acontecer, na sexta tinha-te ido ver, avô. Só para te dizer o resultado do jogo do sporting e o quanto gosto de ti, e a última frase não teria sido apenas : adeus, avô.
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deixaste-me de lágrimas nos olhos. não imagino o que estejas a sentir, porque, felizmente, ainda ninguém da minha família mais chegada partiu, mas quero dar-te forças. nunca te esqueças que agora o teu avó estará sempre a proteger-te. *
ResponderEliminarforça anna <3
ResponderEliminarOh Anna, arrepiaste-me toda com as tuas palavras.
ResponderEliminarNem tudo dura para sempre, apenas as memórias em nós. Não sei o que dizer, ainda tenho a maioria das pessoas que sempre me amaram perto de mim.
Sê forte.
Novamente venho dizer que tu és das poucas blogueiras que me põe a chorar . :c
ResponderEliminarQue saudades eu tenho das tuas palavras!
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