Hoje, apesar de o sol não ter aparecido e de a chuva ter caído quase durante toda a tarde, está calor.  Estou cheia de calor, mas cansada e por isso não luto contra todo este calor que me começa a endoidecer. Não sei se alguma vez te sentiste assim. Às vezes acho que tudo o que eu sei de ti, apesar de ser muito, não é suficiente. Não sei, sequer, se existe algum tipo de conhecimento ou de felicidade que seja suficiente. A verdade é que queremos sempre mais. Queremos sempre mais sorrisos e abraços e viver a vida no seu limite mais feliz. Queremos mais amor e segurança. Queremos mais ideias dentro de nós e mais histórias prontas a serem escritas por nós. Sinto-me cansada. Passei a tarde a arrumar o escritório e agora, por fim, decidi sentar-me em frente do meu computador e ligar a aparelhagem. É algo que eu gosto muito de fazer. Para mim os cds nunca poderão substituir um qualquer novo aparelho tecnológico. O ar enche-se com a voz do Jorge Palma e eu começo a sentir-me melhor. Há qualquer coisa de muito mágica em Jorge Palma: as palavras, a voz, o som. Parece-me sempre que ele tem a melodia certa para estes dias cansados e as palavras ideais para me conseguirem pôr a pensar e, quem sabe, sorrir. A minha temperatura corporal vai descendo à medida que relaxo e escrevo. Escrever faz sempre bem e eu nunca me canso de dizer isto. Escrever é o melhor remédio, sabes? Eu sei que sim. Também tu gostas de escrever. Tenho pena que a inspiração me fuja quando mais preciso dela: nos dias vazios. Se num dia vazio existisse inspiração, o dia seria, de imediato, um dia cheio. Tenho a certeza disso. A distância, nos dias vazios, chateia-me. Não tenho a certeza do que mais escrever, mas sei que tenho de escrever mais. Uma nova música do Jorge Palma começa e uma mensagem aparece no ecrã do telemóvel. A Inês fala-me no Messenger e eu sinto que o mundo está todo a vir, de novo, ao meu encontro. Gostava de ter mais dias bonitos. Gostava de conseguir escrever mais.