Espero encontrar-te amanhã.

Vejo-te sentada ao longe. Na mão tens um malmequer e o teu cabelo voa ao vento. Primeiro, tentas segurá-lo com as duas mãos e quase que estragas o malmequer que, há bocado, apanhaste tão cuidadosamente. Então, deixas de tentar segurar o cabelo com as mãos e ele voa finalmente à vontade. Encostas-te no banco, para trás. Apesar dos teus óculos de sol, consigo ver que fechas os olhos. Não sei porque pensamentos te perdes e eu só penso que amar nunca é demais. De repente, abres muito os olhos e tiras os óculos. Cruzas as pernas e metes um bocadinho do cabelo para trás da tua, tão pequena, orelha. Pegas na tua mala tão depressa como o tempo voa, e tiras um bloco preto de lá. Depois a caneta que escreve azul e começas a escrever. Escreves rápido e, de longe, consigo dizer que a tua letra só pode ser tão bonita como tu. Páras e o teu olhar cruza-se, pela primeira vez com o meu. Agora, neste momento, pertenci-te. Mas o teu telemóvel toca numa harmoniosa melodia e tu atendes. Deixas de olhar para mim e pousas o bloco preto ao teu lado. De repente o vento acalma e, de longe, pelos teus lábios consigo perceber que foi isso que tu disseste: que o vento acalmou. E vejo-te olhar para longe. Talvez estejas a falar com uma amiga que te faz rir com as suas tontarias ou com o namorado, que foi passar o fim-de-semana longe de ti e que já não aguenta com as saudades. Ouço-te rir. O teu riso faz-me sorrir e os nossos olhares cruzam-se mais uma vez. Tento desvendar de que cor são os teus sonhos e que fantasmas te fazem ter pesadelos, mas não consigo. O teu olhar é tão cheio e, no entanto, não consigo ver nada. Também eu estou sentado neste banco de jardim, a escrever. Escrevo sobre ti, rapariga distante que nunca saberei o nome. O meu telemóvel toca e eu tenho de ir. Espero encontrar-te amanhã, aqui, digo para dentro de mim.