sexta-feira, 20 de maio de 2011

há dias que me levam o coração.

Há dias que me levam o coração para bem longe. Dias em que não consigo sentir nada a não ser umas saudades fugidas de quem não devia, de quem não merece. Nesses dias o meu corpo pesa imenso e o mundo é outra vez demasiado grande. Não tenho coração e no lugar dele está algo muito mais pesado. É errado se pensares que sem coração ficas mais leve e consegues voar. É muito errado. Há dias que me levam o coração e quando ele chega, de madrugada ou a meio da noite, vem sempre mais magoado e amarrotado. Gostava de prender o meu coração a mim mesma, de não o deixar fugir. Porque, no fundo, sem o meu coração não sou ninguém. Os dias sabem a nada e nada consigo sentir. Há dias em que nem mesmo a confusão consigo sentir. E fico parada: a olhar para um vazio. A fingir que sorrio se aparece alguém e me encara de frente. Gostava que tudo fosse diferente. Que ninguém me tivesse magoado para os dias não me conseguirem levar o coração. Nesses dias o cansaço acumula-se atrás de cansaço e antes de me ser entregue o coração: tudo explode. Tudo rebenta como uma bomba num campo de batalha da segunda guerra mundial. Se houver quem salte para cima de mim e me arraste para longe dos despojos talvez consiga sobreviver, mais uma vez. E o ciclo continua. O coração fica comigo e quando tudo está bem, ele volta a fugir de mim. Sem mais nem quê. Sem deixar um recado de cima da mesa de entrada, a caneta de feltro que já não escreve bem. Imagino dias em que isto não aconteça. Em que eu impeça o cansaço de se acumular e o coração de fugir. Peço-te, que até esse dia chegar, vás conseguindo compreender aquilo que vai para lá da minha compreensão.

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