agora que a tua mãe saiu e o teu pai foi com ela, vem sentar-te aqui na mesa da cozinha comigo. traz os teus olhos cor de mel e o teu sorriso de rapariga envergonhada. gosto muito de ambos, amor. agora que estamos os dois sozinhos podemos falar sobre todos aqueles assuntos aos quais fechas sempre a porta. abre agora a porta, eu estou aqui e prometo que só vou deixar sair todos aqueles bichos que te atormentam. prometo que impeço as joaninhas e a borboletas de saírem. as lagartas também não vão sair, princesa. as lagartas são sempre precisas. são feias, mas ajudam-te a perceber certas coisas. são feias mas depressa ficam bonitas. tens de entender, pequenina. tens de entender: o mundo às vezes é feio, mas eu prometo que se mantiveres os teus olhos em mim, o mundo é um lugar bonito. o mundo é um lugar bonito e no outro dia na aula de português tive de escrever uma composição sobre a minha visão do amor. falei sobre ti. falei sobre as tuas mãos nas minhas e o teu sorriso quando me vês. falei da nossa bolha do amor e dos nossos medos. mas agora que estamos aqui os dois sozinhos na tua cozinha, talvez me queiras ajudar a fazer-te uma tosta-mista e talvez queiras ir ao mini-mercado comprar um compal de pêra. bem, traz três. traz três e pelo caminho apanha uns malmequeres, que quando chegares a casa eu ajudo-te a colocá-los nesse teu cabelo comprido. pareces uma princesa-grande-pequena, a olhar para mim e a tentares acompanhar tudo o que eu digo. quando voltares do mini-mercado vamos abrir a porta e deixar sair todos esses bichos maus e vamos para a varanda, onde o sol brilha como da primeira vez que estivemos juntos. tudo o que fazemos na vida nos remete a uma primeira vez, sabes? vamos para a varanda e tu ligas a aparelhagem no teu quarto e metes o cd do jack johnson com o volume muito alto para que, da tua varanda, o possamos ouvir. agora sorriste. agora sorriste porque viste que eu me lembrei do que tu gostas de ouvir na varanda. agora o buraco negro que tens dentro de ti vai desaparecer. vai desaparecer só porque estamos juntos e o sol brilha. sei o que me vais dizer a seguir. sei que me vais dizer que eu sou o teu sol. então pronto, amor: na tua varanda estão três sóis: tu, eu e o que irradia luz lá no cimo. hoje vou dançar contigo só porque sei que tu gostas de o fazer. anda dançar comigo, peço-te. e ambos começamos a dançar, uma dança que não respeita qualquer regra e na qual eu te pego como uma bailarina. uma dança que nunca pertencerá a ninguém, a não ser a nós. agora oiço-te, na tua voz pequena, a acompanhares o jack enquanto ele diz que it's always better when we're together, e agora sou eu que sorrio porque consigo ter nos meus braços o meu mundo inteiro.
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é dos tempos que escrevia melhor do que ando a escrever agora ._.
ResponderEliminarestá lindo, lindo lindo lindo. juro. sim, dá, não te sei bem explicar mas deu-me imenso gozo escrever aquele texto e então ao som dos bon iver, melhor ainda.
ResponderEliminartambém já tive alguém disposto a isso, mas eu não deixei, ahah :b
ResponderEliminarmas às vezes devíamos. às vezes devíamos poder esquecê-las, porque às vezes não merecem ser lembradas.
e custa, querida anna, e custa. mas também, olha, "acontece". e uma pessoa só tem que se habituar a essas coisas.
ResponderEliminarnunca mais digas que não sabes escrever. está lindo.
ResponderEliminarcom amor,
o rei das tabelas.
Olha Anna, tu nao imaginas as saudades que eu tinha destes textos! Nem imaginas! Tu inspiras-me, a sério!
ResponderEliminar<3