sábado, 22 de janeiro de 2011

guerras medievais.

se eu tivesse acordado mais cedo, talvez tivesse acordado com um sorriso e a chamar-te amor. mas ontem deitei-me zangada. zangada comigo, não contigo. eu nunca me zango contigo, sabes? zango-me sempre comigo mas, faço sempre disso uma guerra oficial e, como estás comigo, tens de estar na luta também. na guerra ninguém trata bem ninguém, sabias disso? não, não estou a falar daquelas guerras recentes, estou a falar daquelas guerras medievais: com espadas e cavalos e facadas no meio do peito. acredito que nessas guerras ninguém traria bem ninguém, e mesmo que tratassem não há problema. não restaram pessoas desse tempo para me contrariarem agora. acho, portanto, que posso falar à vontade. também não gosto muito quando me contrariam, é verdade. mas é quase inevitável isso não acontecer: não sei nada do mundo. por isso entende que eu nunca me zango contigo. tu és o sol. é impossível alguém chatear-se com o sol. tu és o mundo. e sejamos honestos, ninguém se chateia com mundo. tu és grande. e ninguém se deveria chatear com pessoas que têm mundos dentro delas. eu não o faço. se alguém o faz, não deveria fazer. devia ser quase-crime. entende, portanto, que quando estou zangada é apenas comigo e tal como já disse, como estás ao meu lado tens de entrar na guerra comigo mesma. nem sempre estou em guerras medievais e essas duram sempre pouco e eu já sei muito bem como acabam: eu a ver anatomia e a chorar, ou eu a escrever e a chorar, ou eu sem fazer nada e a chorar. e acaba. deixo-me ir. deixo-me levar pelas lágrimas e tu abres os braços. às vezes são guerras mais pacíficas e em que tu quase nem notas que estou em guerra. não sei muito de guerras. não sei muito de quase-nada. às vezes sento-me a olhar para o vazio e a perguntar-me se existe alguma coisa no vazio. E sim, existe. O vazio é o lugar do passado. Pelo menos para mim. Quando olho para  o vazio costumo chorar. Fazer nada para mim é olhar para o vazio. Eu acho quase fantástico como tu tens sempre resposta para todos os enormes pontos de interrogação que estão dentro de mim. É quase como se fosses deus e mesmo à distância me conseguisses olhar de dentro. Acho que a guerra medieval está para acabar. Acho que a guerra medieval acaba aqui e, contrariando o que disse em cima: a guerra medieval também pode acabar sem lágrimas.

4 comentários: