eu podia dizer que me lembrava do teu olhar, da maneira como costumavas rir-te quando eu te pegava na mão: como se nunca ninguém tivesse pegado nela. eu podia dizer que me lembrava da maneira como me partiste o coração. mas incomoda-me. incomoda-me olhar para ti e pensar como tudo é demasiado assustador. talvez seja isso que mais me faça partir o coração: saber que de um dia para o outro uma vida, se pode transformar em duas. e nunca soube mais nada de ti. nunca quis saber mais de ti. não sei se mais alguma vez pensaste em mim, ou se seguiste totalmente em frente. é impossível seguir totalmente em frente, posso dizer-te, se quiseres ouvir. quando entras na sala, eu reconheço a tua voz e o teu calor. e olho. e vejo-te. e penso em como as coisas mudaram. em como tanto mudou. em como é possível. em como as coisas se quebram com tanta facilidade. tu entras na sala e eu mesmo que não saiba, sei que estás a entrar. e olho. e vejo-te. e gostava de te perguntar como estás. porque me esqueço porque é que as coisas mudaram assim tão de repente. e tu entras na sala. e eu olho. e tu olhas. e olhamos-nos. e pensamos em tudo o que sabemos um do outro, ou não é assim contigo também? e há dias em que as tuas costas roçam as minhas e ambos pensamos em tudo. e não falamos. não dizemos nada. sorrimos. tu entras na sala e nós olhamos-nos. éramos tanto e acabámos sem nada. só restaram pedaços: como a tua cor favorita, a forma como te ris, a maneira como falavas comigo quando tudo estava bem, a forma como me beijavas e me davas a mão e te sentavas no meu colo. não, não sinto a tua falta. não, não costumo parar para pensar no que fomos. mas quando entras na sala, e eu olho para ti, vejo que há sempre coisas que não mudam: a forma como andas, como te movimentas. o tempo não apaga as memórias. e eu ainda me consigo lembrar de tudo. às vezes as coisas más incomodam-me bastante, mas já me estou a habituar. já quase que não dói. agora que me sentei para te escrever, não dói. acho que é bonito e estranho: saber tanto sobre ti. saber que ainda sei tanto de ti e vou sempre saber. eu sei que quando olhas para mim ainda te lembras dos detalhes que me fazem ser eu. posso ter mudado tantas coisas, mas os detalhes estão lá. é como tu, por mais que mudes, os teus pequenos detalhes que te fazem ser, quem na realidade és, estão lá. poderia descrever-te e tu podias vir ler mais tarde e irias pensar em como há coisas que apesar de se quebrarem, nunca se esquecem. talvez olhasses para mim, na segunda-feira, como naquela segunda-feira de março, de há dois anos, com aquele teu sorriso. que é só teu. e que eu vou sempre reconhecer. há coisas que apesar de se partirem, ficam sempre. não sinto a tua falta. mas é bonito e estranho saber que ainda sei tanto sobre ti. as memórias não se queimam. mas esquece lá, esta segunda é feriado e não vais poder olhar para mim.
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
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