and i love you more than i did before.

eu olho sempre para trás. sempre que caminho sozinha numa rua deserta eu olho para trás, a qualquer breve voo de folhas já caídas no chão eu olho para trás. às vezes é por ter medo, tu sabes bem como sou, mas outras vezes é para ver se te vejo, para ver se vens a correr atrás de mim, para ver se finalmente vieste ter comigo hoje. E olho para trás, e quando apenas vejo as folhas moverem-se lentamente no chão vazio, eu olho de novo para a frente e abraço-me a mim mesma; começo então a falar sozinha. Na maior parte das vezes nem é bem falar, é mais sussurrar letras de músicas ao vento. Mas há dias em que falo mesmo sozinha, bem alto. Nos dias em que a saudade aperta e a dor cresce eu falo comigo mesma, às vezes encenando uma pequena peça de teatro entre nós. Faço o meu papel e o teu papel. Nunca me decidi bem se gosto de teatro ou não. Nunca consegui perceber se gosto de palcos e de luzes e de mil pessoas a assistirem. E é talvez por nunca me ter decidido, que crio os meus próprios teatros, sem pessoas a assistirem, sem luzes fortes a embaterem nas nossas caras, sem palcos pretos com marcações a branco. É talvez por gostar bem mais do som do teu coração do que o de todas as músicas do mundo que eu gosto mais de fazer os meus próprios teatros, que nem são bem teatros; porque se reparares ninguém está a representar, nem a seguir um guião. Nem tu, nem eu fazemos isso. Dizemos aquilo que o coração manda. Bebemos compais de pêra e comemos morangos pela tarde, não pela indicação cénica, mas pelo amor. Tudo pelo amor. Pelo nosso amor. E depois, é a nossa vida, a nossa história mais que bonita. É a forma bonita com que tudo começou, a maneira perfeita com que as palavras foram surgindo com a maior das naturalidades. É falar contigo como se falasse comigo, e rir-me logo pela manhã. Não são precisas mil pessoas a assistirem para tudo correr bem, não é preciso ser um sucesso de bilheteira para sermos felizes. Não precisamos de tanta gente a assistir. Para mim bastas-me tu, sempre tu e só tu. Tu sabes bem como é, como essas mil pessoas nunca iriam compreender, e tu sabes que eu, por vezes, me enervo com isso. Porque há pessoas que não compreendem, não percebem e ainda criticam. Criticam a peça de teatro sem nunca a terem visto, sem nunca terem lido nada dela. Eu não entendo, nem percebo isso. E depois és tu que tens sempre paciência para as perguntas que eu não me canso de fazer. É bem melhor um parque solarengo do que um palco, não achas? É os sorrisos que me fazes fazer, as gargalhadas que se soltam sem eu me aperceber. É seres lindo. E agora olho para trás, com um sorriso grande, sempre com os meus braços à minha volta e imagino-te ali. Um dia não falarei mais na rua, sozinha. Um dia olho para trás e tu estás lá e entramos numa grande conversa sobre tudo aquilo que fomos armazenando ao longo dos anos. Falarei contigo como antes falava comigo sozinha. E aí já me podes ajudar a decidir se gosto de teatro. Mas uma coisa que eu gosto sempre, a todas horas, a cada minuto que passa, sem nunca me cansar é de nós, de ti, de tudo o que somos, da nossa história. E isso, eu digo-te, é algo que nunca passará. É como as flores florirem na primavera, isso nunca deixará de acontecer. Dá-me a mão. Diz-me que nunca precisarei de me apoiar a mais nada, a não ser a ti. Diz-me que nunca me vou ver sozinha. Que me vais amar. Que não me vais deixar. Deixa a nossa história correr durante anos, até tu e eu deixarmos de existir. Deixa a nossa história crescer e permanecer depois de nós. Diz-me que nunca te vais esquecer de mim. Que nunca me vais deixar de amar. Que terás sempre um sorriso e um abraço com um beijo. Que nunca precisaremos de seguir as indicações cénicas e o guião de um teatro já antigo, pois saberemos sempre o que dizer um ao outro. Que os silêncios serão sempre cheios de palavras e de gestos, e de toques suaves com as mãos. Tu sabes que eu não suportaria acordar sem te ter. Já não sei viver sem ti.