o sol cai.

o sol cai. a lua sobe. o pano estrelado que tu tão bem conheces coloca-se no céu. sabes que é a tua hora. vais para a varanda; levas o caderninho e a caneta preta. sentas-te na cadeira azul como o mar e olhas para as estrelas. e pedes-lhe, pedes-lhe, na esperança que mesmo ele estando no outro lado do mundo (ou na cidade perdida no meio rio) que te mostre o mundo. sim, agora. mostra-me o mundo. o teu mundo. as tuas estrelas. é que eu preciso mesmo disso, meu amor. preciso que me mostres o teu mundo, que abras os abraços e que digas à lua que me amas. eu preciso de acreditar nisso. diz-lhe agora, que ela depressa me dará o recado. diz-lhe agora enquanto o sono não chega e eu estou acordada. preciso de te ouvir, mesmo  que seja por intermédio da lua. aproveita, e se quiseres, diz-lhe também, que tens os braços sempre abertos para mim, e os beijos sempre solarengos na ponta dos lábios só para mim. só para mim. diz-lhe que ainda vives de mim, e por mim. diz-lhe que é em mim que pensas sempre que os teus lábios se abrem para um sorriso e sempre que fazes algo do qual te orgulhas. diz-lhe que ainda vais para cama, com o caderno e a caneta e que escreves sem fim, sem nunca te cansares, sobre mim. e mesmo que o caderno já esteja cheio de mim, tu achas que as palavras nunca serão suficientes para me descrever, para nos descrever. diz tudo isso à lua, amor. e pede-lhe que me mande o recado, eu preciso de continuar a acreditar que tu avanças por mim, ou que páras no meio da estrada porque o teu coração se aperta de saudades. e se tu lhe disseres, eu prometo, amor. na próxima tarde sem vento, eu estarei no banco de jardim à tua espera. aparece, tenho saudades de te sentir. tenho saudades do teu calor e do nosso amor. tenho saudades, apenas. de tudo.