a relva estava molhada, mas mesmo assim, não sei como, eu sentei-me. sentei-me e senti as minhas calças a ficarem molhadas pela relva. não me importei. era o que tu costumavas fazer. sentavas-te na relva molhada e depois rias-te, e eu não percebia porquê. tinhas as calças todas sujas, todas molhadas. mas mesmo assim rias-te. e eu embalada por ti, ria-me também. ainda te lembras, amor? ainda te lembras quando eu levava aquela fitinha azul e chegava com o cesto do piquenique e te tapava os olhos, e tu dizias, tentando esconder o sorriso - deixa-te disso, anda. e eu pegava na tua mão, na tua bela mão e levava-te para o banco. tu querias que eu me sentasse contigo na relva molhada, até chegaste a implorar, uma vez. mas eu não queria. levava-te sempre pela mão até ao nosso banco. sentava-te e dava-te um enorme beijo. e depois fazia as típicas perguntas enquanto tirava a comida do cesto. levava sempre as mesmas coisas: dois compais de pêra, dois pães com fiambre e duas pêras para trincarmos. enquanto comiamos, tu falavas comigo. falavas muito. e tu nunca saberás o quanto eu gostava de te ouvir falar muito, assim sem parar. tu não imaginas. nunca farás ideia, mas agora também não me interessa. não te vou chamar para aqui e pedir-te para te sentares na relva molhada, esse era o teu papel. e deitaste-o fora, assim do dia para a noite. tinhamos longas conversas, andávamos muito e sorriamos. eu pulava para as tuas cavalitas e dizia, num sussurro breve - gosto muito de ti, mas mesmo muito. tu sorrias, e aí já não disfarçavas o sorriso. e eu começava a cantar e tu a fazeres a melodia. todos olhavam para nós, e tu não querias saber. eu era a tua miúda. ainda te lembras, amor? das mãos dadas, dos sorrisos, dos abraços, e da minha timidez (que aos poucos e poucos desaparecia)? eu estou aqui sentada com as calças todas sujas e molhadas e lembro-me como me lembro tão bem de tudo. de tudo o que se passou. de todos os lanches partilhados, de todas as conversas longas, de todas as conversas bonitas e do amor. de todos os teus sorrisos. do jeito com que mexias a mão, da maneira como me olhavas. e dói. dói muito teres ido para longe de mim. dói muito lembrar todas as tardes e saber que talvez não haja mais nenhuma. eu não te pedia mais nada. eu só queria é que houvesse só mais uma tarde, uma última conversa. mas parece que quando chega ao fim, nunca há mais uma última coisa, um último pedido. é sempre assim. tudo chega ao fim, incompleto e imperfeito. talvez, da mesma forma como começou.
sábado, 22 de maio de 2010
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desculpa estar a perguntar, mas acabaste c o teu namorado ? :$
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